Em poucos dias dois motociclistas nordestinos desbravaram o litoral paraibano de sul a norte. Apesar do pouco tempo, as surpresas foram muitas!

Texto: Hugo Falcão
Fotos: João Marcelo Barbosa e Hugo Falcão

Viajar pelo litoral nordestino é sempre uma grata surpresa. E em alguns lugares esse encanto parece ganhar maiores proporções. Sem dúvida o litoral da Paraíba se encaixa nessa premissa. Imagine então fazer um tour por estas bandas, acompanhado por um amigo aventureiro e sua moto. Foi exatamente isso que fizeram os motociclistas Hugo Falcão e João Marcelo Barbosa. Acompanhe a viagem da dupla nas palavras de Hugo Falcão.

BELEZAS

“Sabendo das belezas do litoral nordestino, eu, Hugo Falcão, de Maceió (AL) e João Marcelo, de Porto Seguro (BA), planejamos uma aventura pelas praias do litoral sul e norte da Paraíba. Lugares de belezas ímpares, que ficam escondidos dos viajantes que passam pelas estradas principais, como a BR-101, por exemplo. Como João Marcelo vinha me visitar em Maceió, organizamos um roteiro passando pelo litoral norte de Alagoas, seguindo pela rodovia PB-008, visitando praias como Pitimbu, Bela, Tambaba e Cabo Branco, já na capital paraibana. Depois seguiríamos até o litoral norte daquele estado, mais precisamente nas praias de Cabedelo e Lucena.

PLANEJAMENTO

Como tenho o costume de guiar amigos motociclistas pelo litoral alagoano, pernambucano e paraibano, não foi nada complicado estabelecer uma rota na qual pudéssemos aproveitar ao máximo os locais maravilhosos situados no litoral desses três Estados, mas sempre com o foco na via costeira paraibana, a PB-008. Nosso plano previa deixar Maceió (AL) para trás, através da AL-101 norte, passando por lugares paradisíacos como Japaratinga e Maragogi, ainda em solo alagoano. Como queríamos parar nesses locais para aproveitar suas belezas, a opção era dormir em Recife (PE) e depois seguir pela BR-101 norte até a cidade de Goiana, zona da mata pernambucana. De lá passaríamos a seguir já pela PB-008.

O INÍCIO

Nossa aventura começou ainda em solo alagoano, de onde partimos rumo a Recife, capital pernambucana. Lá passamos apenas uma noite, pois no dia seguinte já seguiríamos pela BR-101 em direção à divisa entre Pernambuco e Paraíba, aproximadamente 75 km, até a cidade de Goiana, onde deixamos a BR-101 para seguirmos pela rodovia estadual PB-044.

Para quem quiser fazer esse mesmo caminho, não tem como errar, pois o acesso à PB-044 fica em frente ao posto fiscal, pouco depois da placa que marca a divisa entre os dois estados. Há um pequeno trecho de terra batida até chegar novamente ao asfalto.

Daquele ponto em diante começaram a surgir nossos pontos de paradas para apreciarmos as belas praias paraibanas, antes de chegarmos a João Pessoa, sua capital. Até chegar à praia de Pitimbu, passamos por Caaporã, enfrentando alguns trechos de calçamento (paralelepípedos) e asfalto muito ruins. Mas não há com o que se preocupar, pois a estrada tem um certo movimento e, caso aconteça qualquer imprevisto, o socorro será rápido. Posso afirmar que vale muito a pena, pois o visual até se chegar à praia é muito bonito.

Assim que chegamos à praia paramos nossas motos num local em frente ao mar e ficamos apreciando não só o lugar, mas uma água de coco gelada para matar a sede. Ainda era o início da manhã, mas o sol já estava castigando, sem falar que, com roupas de cordura em pleno litoral nordestino, o passeio fica mais desafiador.

Da entrada na BR-101 até a praia de Pitimbu, passando pela PB-044, são aproximadamente 25 km de distância. A pausa na praia foi boa, mas tínhamos que seguir rumo à praia Bela. Retornaríamos pelo mesmo caminho cerca de 3 km até o acesso à PB-008, que nos levaria ao nosso próximo destino.

PRAIA BELA

O caminho até a próxima praia é asfaltado, mas no seu início o piso está bem ruim, com vários buracos. Seguindo em velocidades condizentes com a via, não tem problema algum! São aproximadamente 12 km de estrada até a chegada na Praia Bela, com um pequeno trecho de terra até os restaurantes que ficam às margens do rio Macatu. A praia faz jus ao nome que leva, pois o lugar é lindo, com uma vista maravilhosa de cima do morro que fica do lado do rio. O local conta com boa quantidade de pousadas, para aqueles que tenham vontade de ficar por lá e curtir a praia. Descemos até um dos restaurantes na beira do rio e aproveitamos para descansar mais um pouco antes de continuarmos com nossa aventura. Mais uma vez a água de coco se fez presente e pudemos ficar à sombra curtindo a paisagem.

Nesse local as águas do rio Macatu se encontram com o mar, formando um estuário de águas calmas e mornas graças a um imenso banco de areia. Quem não quer tomar um banho de mar pode ficar na piscina formada pelas águas do rio, onde várias mesas localizam-se literalmente dentro d’água. Algumas mesas ficam em locais mais fundos, onde se pode ficar em pé dentro do rio. E o melhor de tudo é que existem algumas jangadas nas quais os funcionários dos restaurantes levam não só os clientes até as mesas, mas a comida e bebida que será servida a eles. É bem legal e interessante ver as jangadas com mesas e levando os pratos coloridos até os pequenos quiosques dentro do rio.

PRAIA DE NATURISMO

Deixávamos então a praia Bela rumo a Tambaba, praia muito conhecida no litoral nordestino, ainda mais por se tratar de um ponto naturista. Mas não pensem que a praia é frequentada apenas por adeptos do naturismo. Existe uma parte dedicada ao naturismo que é totalmente isolada, onde o acesso é controlado e com algumas regras. Homens, por exemplo, não podem entrar sozinhos. A parte da praia onde não há a prática do naturismo é visitada por famílias inteiras, pais levando seus filhos sem a menor preocupação, pois lá tudo é muito organizado e controlado.

Logo na chegada à praia existe um mirante. Mas, para aqueles que querem um pouco mais de adrenalina, antes do mirante, do lado esquerdo, existe uma ponta da falésia onde se pode parar as motos e apreciar o visual. É simplesmente um espetáculo a vista que se tem lá de cima. Da praia Bela até o mirante de Tambaba são aproximadamente 12 km de distância. A estrada é boa e toda asfaltada. Logo abaixo do mirante existe um estacionamento. Deixamos as motos lá e descemos até a praia propriamente dita. O local é lindo, com algumas pedras que formam pequenas piscinas de água bem morna. Existem algumas barracas de lanches e petiscos, além de um restaurante ao lado da entrada para a parte naturista. Então, para quem quer ficar por lá e curtir a praia, a diversão é garantida.

De Tambaba seguimos até a Ponta do Seixas, ponto mais oriental das Américas, na praia do Cabo Branco, já em João Pessoa, capital paraibana. Lá existem também a Estação Ciência e o farol do Cabo Branco, dois pontos de parada obrigatória para os visitantes. O acesso até lá é todo feito pela PB-008, que além de estar toda asfaltada é bem sinalizada, então não tem como errar o caminho.

LITORAL NORTE

Todo passeio pelas praias de Pitimbu, Bela e Tambaba, bem como a Estação Ciência e o farol do Cabo Branco, na Ponta do Seixas, pode ser feito em um dia, aproveitando a manhã e o começo da tarde. E assim fizemos, deixando para o dia seguinte o passeio pelo litoral norte.

Iniciamos com uma visita ao Forte de Santa Catarina, em Cabedelo, aproximadamente 20 km da capital João Pessoa. A fortaleza é uma construção datada do ano de 1586, localizada na margem direita da barra do rio Paraíba.

Em 1591 esse forte foi arrasado depois de um ataque combinado entre forças francesas e indígenas e, já no ano seguinte, começou a ser reconstruído em alvenaria de pedra e cal, sendo concluída a sua construção em 1597, sob a invocação de Santa Catarina de Alexandria, padroeira da Capela do Forte, e em homenagem a Catarina de Portugal, Duquesa de Bragança. Em 1938, o forte foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e registrado no Livro das Belas Artes.

MARCO ZERO E NOVAS PRAIAS

Saindo do Forte de Santa Catarina paramos em frente à placa do marco zero da rodovia Transamazônica, a famosa BR-230, que faz parte da lista de desejos de grande parte dos motociclistas de aventura. Fizemos uma breve parada para registrar aquele momento, antes de seguirmos até o local da travessia de ferry-boat.  Vale lembrar: ao lado da placa existe um enorme painel, no qual podem ser vistos pontos marcantes por onde passa a rodovia Transamazônica.

Após a travessia para o município de Lucena, através do ferry-boat que cruza o rio Paraíba, o sinal de celular praticamente não existe. Vale salientar que os bares e restaurantes daquele lado do rio não trabalham com cartões de crédito! O passeio nas águas do rio dura em torno de trinta minutos e passa ao lado do porto e do forte de Santa Catarina. O visual também é belíssimo!

Mas a nossa meta era a Igreja de Nossa Senhora da Guia, localizada numa área de preservação ambiental com resquícios de Mata Atlântica, no alto de uma colina, fundada pelos frades carmelitas em meados de 1591, e que é uma das mais antigas do país.

Recentemente foi restaurada segundo o Projeto da Fundação Cultural do Estado da Paraíba. Com a saída dos carmelitas, em meados do século XIX, o Santuário ficou em ruínas e o convento foi demolido, ficando apenas os alicerces e as amarrações do telhado. Nos anos de 1980, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) restaurou a igreja e reurbanizou toda a área adjacente do prédio, recuperando as características do Santuário de Nossa Senhora da Guia nos tempos do período colonial.

O passeio estava ótimo, tanto que nem vimos o tempo passar. E como já estávamos perto da hora do almoço, seguimos até um restaurante às margens do rio Uma, onde pudemos apreciar um belo peixe frito e descansar nas redes que existem no pátio do restaurante. Por volta das 16h00 voltamos até o local da travessia de ferry-boat para darmos seguimento ao nosso passeio, só que dessa vez, até a Praia do Jacaré.

PRAIA DO JACARÉ

Saindo do atracadouro em Cabedelo percorremos mais 10 km pela rodovia BR-230 até a famosa praia do Jacaré, onde se tem um pôr do sol espetacular, acompanhado do Bolero de Ravel, tocado pelo saxofonista Jurandir, que chega pelo rio em cima de uma canoa, tornando o aquele espetáculo ainda mais maravilhoso. O local conta com excelente infra-estrutura de bares, restaurantes, lojas de artesanato e estacionamento. Tudo isso às margens do rio Paraíba. Assim que chegamos naquela praia fluvial, estacionamos nossas motos exatamente na margem do rio e fomos dar uma volta na passarela onde ficam os restaurantes e lojas. Dica: é bom chegar cedo para poder conseguir um bom lugar ao lado do rio!

Nosso final de dia foi maravilhoso! Aliás, todo o nosso passeio naquele dia foi fantástico, pois além de pegarmos estradas com nossas motos, pudemos visitar pontos turísticos marcantes da nossa história. E o melhor de tudo é que isso pôde ser feito em apenas um dia.

CONCLUSÃO

Essa pequena viagem desde a saída de Recife (PE) até o litoral norte paraibano pôde ser feita em apenas dois dias, sem pressa e curtindo todos os lugares visitados. Claro que uma semana seria o ideal para podermos aproveitar as praias e todos os seus atrativos.

Mas mesmo com dois dias conseguimos curtir algumas das belezas do litoral da Paraíba, com passeios para todos os gostos, com visitas a lugares históricos, pontos de belezas naturais e, o melhor… de moto!”.

Para saber um pouco mais sobre essa viagem acesse: www.flickr.com/falcaosobrerodas

*Matéria publicada na edição #179 da revista Moto Adventure.