Uma atitude mental correta ajuda o motociclista a se inserir no meio em que opera com mais segurança

Texto: Nenad Djordjevic
Fotos: Arquivo

Alguns podem questionar o que a atitude mental tem a ver com pilotagem, mas basta observar atentamente como a pilotagem se processa para concluir sua relevância – antes de tudo, coletamos as informações a respeito do meio em que operamos através da visão e audição, interpretamos essas informações e, ao final, trazemos alguma forma de solução para a interação. Conclui-se, então, que a pilotagem em si é essencialmente um processo intelectual, no qual a parte prática, a execução de manobras, nada mais é que a conclusão de um pensamento previamente elaborado.

Um motociclista está na maior parte do tempo operando em um meio hostil – os veículos ao redor são maiores e oferecem maior proteção a seus usuários. Mais do que isso, a moto permite maior desenvoltura frente à maioria dos veículos com que interage, colocando-a constantemente em condições de ultrapassagem – além de maior risco. Tais características determinam que o usuário de uma moto deve estar totalmente focado em como procede com esta interação, pois lhe cabe oferecer segurança a si mesmo e aos demais, uma vez que está, na maior parte do tempo, interagindo de forma ativa com o trânsito (e não de forma passiva). Agora, se torna mais nítida a ideia de que um motociclista deve ter uma atitude mental pró-ativa – uma vez que suas decisões afetarão sua segurança e as dos demais.

SERENIDADE

Todas as decisões tomadas por um piloto de moto devem ser tomadas de forma ponderada – com boa análise de todas as possibilidades relativas a uma situação. Para tanto, ele ou ela não pode ter sua mente invadida por pensamentos alheios ao processo da pilotagem. Uma discussão familiar, um problema financeiro ou um mal-estar físico são exemplos de coisas externas que podem facilmente tomar a mente de qualquer pessoa. Um piloto consciente deve reconhecer esta possibilidade e criar os mecanismos necessários para impedir que aconteça. O pensamento que deve prevalecer no momento de iniciar a pilotagem é semelhante a este: “Nada é mais importante, neste momento, que eu chegar ao meu destino em segurança. Absolutamente nada! Todo o resto é secundário e será tratado quando for a hora!”

Uma frase assim deve ecoar na mente do motociclista sempre que ele notar uma dispersão – pensamento que nada tem com o que está sendo feito naquele instante. Tente repeti-la mentalmente algumas vezes, para que seja fácil memorizar – e, de fato, usar – sempre que achar que sua atenção está divagando para além da pilotagem.

INICIANTES

Os pilotos iniciantes estão com suas mentes cheias de dúvidas e incertezas. As metas que estabelecem quanto à distância a ser percorrida ou o tempo que pilotarão devem levar em conta suas aptidões e conhecimento do que estão se propondo a fazer. O ideal é que, na fase inicial, o candidato a piloto estabeleça metas às quais se sinta razoavelmente confortável para executar. Digo “razoavelmente” porque deve haver uma pequena incerteza para poder promover alguma evolução – no entanto, não pode ser tão crítica a ponto de comprometer a segurança. Se existem dúvidas quanto a algum procedimento com impacto na segurança, estas devem ser tratadas antes de se tentar a execução durante a pilotagem.

Pensamentos que incluam, durante a pilotagem, as palavras “acho”, “talvez” ou afins devem ser afastados a todo custo – um motociclista tem poucas chances de errar. Deve ter bastante certeza do que está por vir – e das dificuldades que encontrará –, racionalizando todos os possíveis problemas antes mesmo de acontecerem. Para estes futuros pilotos, o pensamento apropriado deve ser semelhante a este: “Darei o melhor de mim reconhecendo cuidadosamente minhas limitações. Ainda estou aprendendo e quero continuar assim – sempre aprendendo mais.”

EXPERIENTES

Pilotos experientes estão mais sujeitos a toda forma de incidentes, pois, frequentemente, subjugam as situações e procedimentos apropriados, superestimando as próprias capacidades sem base lógica consistente. Daí se verem envolvidos em situações difíceis com mais frequência que um iniciante.

O aparente domínio do equipamento acaba impulsionando o piloto a considerar, também, estar no controle das situações ao redor – mas a realidade é que há um limite no que pode ser controlado e é vital reconhecer esta limitação, adotando-se uma margem de segurança.

Estes pilotos acabam se deixando influenciar por palavras que traduzem alguma forma de obrigatoriedade, como “preciso”, “tenho que”, permitindo que necessidades externas dominem sua razão e o objetivo principal – voltar inteiro para casa. Além do pensamento inicial relativo à serenidade, esses pilotos devem mentalizar algo que lhes permita recolocar o foco nos procedimentos em execução: “Os melhores pilotos do mundo erram – criarei mais tempo para rever cada atitude tomada, para minimizar esta possibilidade.”

EGO

O ego de um motociclista é normalmente um pouco mais inflado que o da maioria. Todos nós acabamos, em alguma instância, vencidos pelo desejo de externar nosso conhecimento, habilidade ou maestria motociclística. As exibições de ousadia frequentemente têm plateias, impulsionando ainda mais o imaturo contra a prudência. Para se esquivar desses pensamentos, o piloto consciente deve tentar focar a mente em outro tipo de recompensa: “Vou pilotar somente para o meu prazer. O que os outros acham de minha pilotagem não é importante.”

PENSAMENTOS

Dominar nossos sentidos, percepções e habilidades é tarefa das mais complicadas – exige autoconhecimento e postura madura, que não estão presentes em todas as fases de nossas vidas. Para os mais impetuosos, é tarefa árdua e sistemática – tem de se auto-impor muita disciplina, constantemente. Se você é assim, aí vão alguns pensamentos que me ajudaram a controlar minhas próprias ações:

“O prazer da pilotagem está na precisão e não na ousadia.”

“Quanto mais suave sou com o equipamento, mais suave é sua resposta.”

“Competir tem hora e local apropriado – isto é cabível neste momento?”

Este é um pequeno vislumbre da complexidade presente na pilotagem motociclística –

considere suas implicações e domine seus pensamentos. Não permita que agentes externos e alheios ao ato de pilotar interfiram neste processo. Apesar de pilotar uma moto trazer emoções difíceis de descrever, temos que mantê-las sob controle. E em prol da segurança.

*Matéria publicada na edição #130 da revista Moto Adventure